O nosso conteúdo de hoje é um pouco diferente – mas muito especial. Uma de nossas intercambistas, a Gabrielle Pimenta, que é estudante de Engenharia Automotiva, fez um depoimento super interessante contando sobre tudo o que ela aprendeu em suas experiências de intercâmbio Work & Travel nos Estados Unidos. Esse é um programa que possibilita trabalhar em outro país no período de férias da faculdade e ela gostou tanto que já viajou duas vezes conosco.
Não deixe de conferir o relato super completo com informações importantes sobre o destino! E aproveite também para dar uma espiadinha no perfil da Gabi no Instagram. Aliás, ela está super disponível caso você queira tirar mais dúvidas!
“Quero compartilhar o máximo das minhas experiências para que você aproveite o máximo da sua!”
Ao longo desse depoimento vou apresentar como é essa experiência nos Estados Unidos, e o que precisa saber para sanar suas dúvidas e até as de seus pais – colocando minhas aventuras como exemplos. De início, as principais informações que deve saber é que para participar desse programa é necessário estar matriculado em uma universidade, ter um inglês intermediário ou avançado e ter em mente que o investimento total é entre US$ 3.000,00 e 4.000,00.
PASSO INICIAL
O programa oferece vários empregadores espalhados pelos EUA, a maioria são resorts em locais para esquiar. Não tem ideia para onde quer ir? Talvez a cidade mais próxima de um local que sonhe em conhecer. Sugiro fazer uma pesquisa dos empregadores – a agência lhe fornece uma lista com todos os empregadores e vagas disponíveis assim que o programa é contratado (Job Offer) – para saber onde estão, procure fotos para ver como se identifica, tanto com o local de trabalho quanto com a cidade. No mapa veja o que tem para fazer na cidade e nos arredores.
Lembre-se que ficará quatro meses, e o mais legal da viagem é vivenciar a cultura. Então, anote o que tem de diversão, pontos turísticos, eventos que acontecerão enquanto estará lá, como os X games em Aspen, por exemplo. Até supermercado é bom saber – nunca pensei que a existência de um Walmart me reconfortaria.
Cidades pequenas também têm muita coisa para fazer, procure onde é a Main Street, geralmente é cheio de bares – local onde irá conhecer muitos americanos, disparado – e restaurantes. As famosas house parties acontecem com frequência. Tenha em mente apenas que se tiver afastado de uma cidade maior, depois de uma semana corrida de trabalho às vezes não terá energia para dirigir 3-4 horas para visitar outras cidades. Mas como o mais empolgante é aproveitar a montanha, é impossível faltar diversão. É importante verificar como é o passe com o seu empregador, alguns oferecem sem custo e outros cobram uma porcentagem. Geralmente está descrito na Job Offer, um documento fornecido pela agência com as informações sobre as vagas disponíveis.
A cidade que escolhi foi Park City, um dos maiores lugares para se esquiar dos EUA. Tem uma Main Street recheada de bares e restaurantes, outlet, ônibus gratuito da cidade. E o mais sensacional que uma vez por mês tem uma balada que faz um baile funk, dia de matar a saudade de casa e falar muito português! Todo ano acontece o festival Sundance de cinema, onde nossos astros favoritos circulam pela cidade. Um detalhe: para entrar em bares, baladas e comprar bebida no mercado tem que apresentar passaporte e a idade é 21.
Tem ônibus de linha que leva para Salt Lake City, capital de Utah, por menos de cinco dólares e apenas 40 minutos de viagem; tem aquário, museu, Shopping center, é a cidade dos Jazz, ou seja, jogos da NBA, East High (senário de High School Musical), entre muitas outras coisas que uma capital oferece.
A ESCOLHA
Com tantos lugares maravilhosos na sua lista de pré-seleção, listo aqui alguns questionamentos e dicas que talvez lhe ajudem a escolher. Por exemplo: consigo juntar todo o dinheiro investido? Como é a prática do inglês?
A escolha de com quem será a sua viagem acho que é a decisão mais pessoal que irá fazer. Eu escolhi ir sozinha, minha primeira viagem internacional, e fui eu comigo mesma. Meu foco era praticar o inglês e mergulhei com tudo na experiência.
Não sei expressar o quão gratificante, provei-me ser capaz de tudo; a maior adrenalina foi em menos de 48 horas: tive que encontrar os portões das conexões (para quem já passou por aeroportos internacionais sabe o desespero), tirar dúvidas, pegar os transportes certos para chegar na casa e encontrar o RH do hotel – até pegar no tranco o inglês sai um pouco embolado.
Para ser mais desafiador, escolhi um hotel que tinha poucas vagas para brasileiros e o trabalho com mais contato com os hóspedes possível; resultado: falei apenas inglês por quatro meses e de bônus aprendi espanhol, pois todos da minha equipe eram Peruanos ou Argentinos e morava com Mexicanos.
Sei que não é a decisão mais fácil, então se não se sente confiante, e até mesmo disposto faça aquele grupinho maroto de amigos e combinem de ir para o mesmo lugar, a oportunidade de falar inglês vai aparecer – principalmente com uma vaga que tenha contato com turistas e nativos. E se estava com dúvida de ir sozinho, sou a prova viva que conseguirá!
Beleza Gabi, mas tem muitas vagas que envolvem diretamente esquiar e eu nunca nem vi neve; pois eu também nunca tinha visto, muito menos sabia sobre equipamentos de esqui ou como eram as coisas na montanha. E o meu trabalho era de Ski Valet, todos os dias recepcionando pessoas do mundo inteiro, ajudando a colocar os equipamentos, dando orientações para o dia na montanha, na volta guardar todos os equipamentos. A primeira semana é um pouco “overwhelm”, pois leva um tempo até aprender os esquemas, lembrar de todos os termos em inglês e se acostumar com a rotina, mas nada complicado, tudo que fazemos pela primeira vez leva um tempo para nos adaptarmos.
O dinheiro é a parte que pega para você? Para a viagem foi me emprestado o dinheiro, ou seja, ao longo das temporadas tive que separar o que era economia, despesas e lazer. A forma mais eficiente, eu diria, de saber se a vaga que deseja vai pagar as contas, ou ficar no zero a zero, é entrar em contato com pessoas que já foram – a agência tem o contato dos participantes de outras temporadas que se disponibilizam a tirar dúvidas.
No Waldorf, hotel em que trabalhei, cada setor tinha um esquema para hora extra, por exemplo, o meu não permitia. Mas Gabi, o que é hora extra? Quando na semana suas horas de trabalho ultrapassam 40 horas, essa quantidade extra você receberá 1,5 do valor por hora; se sua vaga permitir, muitas vezes é mais vantajoso do que procurar um second job.
Trabalhando próximo de 40 horas por semana, ganhando uns 12 dólares por hora você provavelmente terá juntado todo o valor das despesas no final da temporada, incluindo apenas os gastos antes de embarcar, alimentação e moradia dos 4 meses (eu pagava S$ 500 de aluguel).
Não se assuste por poucas vagas pagarem mais de 10 dólares por hora, nos EUA é cultural dar gorjeta, principalmente na área de alimentação, a média de gorjeta por hora pode ser até maior que o quanto recebe por hora, mas fique atento a isso. Eu sei que irá querer aproveitar o país, socar as malas de roupas e eletrônicos. E aqui entram as horas extras ou second job; quem tem moradia e/ou alimentação pelo empregador tem alguns dólares de vantagem.
Em outlet muitos conseguem second job pois eles encaixam suas horas disponíveis, eu fiz alguns turnos de duas horas. Muitos restaurantes contratam também (alguns pedem Food Handler Permit, custa aproximadamente 30 dólares, dura 3 anos e pode tirar online). Se a cidade escolhida tiver vários resorts, é uma boa dica para procurar.
“Nossa Gabi, mas até agora só falou em trabalho, não quero mais ir só vou trabalhar”! Calma que a parte do Travel eu já conto! Pense, 40 horas são oito horas por dia com dois dias de folga. Só coloquei as informações detalhadas para quem realmente quer uma garantia que é possível pagar toda a viagem e aproveitar. Em minha primeira temporada, trabalhei pela manhã na Old Navy como second Job e de tarde no Waldorf. Por dois meses trabalhei entre 10 e 12 horas por dia. Dediquei-me para ao final da temporada devolver o que me emprestaram, realizar a viagem que tinha marcada e as 3 malas lotadas de roupas que comprei; mesmo assim aprendi a esquiar, sai frequentemente para conhecer os restaurantes e aproveitar a cidade. E ainda fiz uma viagem bem legal pela Califórnia.
A PARTE DO TRAVEL
Acredito que todos que pretendem ir para os EUA querem também conhecer os cenários dos filmes, pegar o famoso taxi amarelo, ver o Hoolywood Sign, visitar a Golden Gate, andar de limusine em Vegas, alugar um conversível e fazer uma road trip.
Claro que o próprio programa já é uma viagem em si, só de viver na neve é surreal – até hoje ver a imensidão de neve que brilha com a luz do sol me trás uma emoção; mas como uma boa Brasileira, de tudo que listei a única coisa que não fiz foi a parte da limusine.
Existem várias formas de viajar durante a temporada, mas primeiro vou contar como funciona o visto, pois está tudo interligado, o visto de trabalho para esse programa tem como datas o primeiro e último dia de trabalho. Porém, pode entrar no país antes da data que está no visto e ficar até 30 dias depois do seu último dia de trabalho, chamado de grace period.
Antes do começo da temporada aproveitar para viajar vai depender do teu calendário da faculdade, pois as datas geralmente são muito próximas; mas quem sabe uma escala em alguma cidade que queira conhecer e ficar 1 ou 2 dias. Durante o período de trabalho é bem comum fechar um grupo de 5-8 pessoas, alugar um carro no dia de folga e conhecer lugares próximos. É tranquilo conseguir que alguém te cubra (todo mundo se ajuda) ou trocar a escala da semana comunicando o chefe antes para que ele coloque sua folga no dia da viagem.
Durante a semana, não sendo próximo de feriado ou próximo do fim de ano; pedindo um bom tempo antes, os chefes permitem tirar 2, 3 dias de folga seguidos para fazer alguma viagem mais elaborada. Por exemplo, meu aniversário é no final de fevereiro, pedi folga de terça a quinta e fui comemorar em Vegas.
E a viagem no fim da temporada é a que terá mais liberdade, o único limitante é o início das aulas de volta no Brasil. Eu fiz aquela sonhada road trip de melhores amigas pela Califórnia de carro por 12 dias.
SOLUÇÃO DE (QUASE) TODAS AS DÚVIDAS
Acredito que a primeira coisa é saber que tem pessoas que amam o que fazem te dando o suporte, para mim, essa pessoa foi a Andreia da TravelMATE Juvevê. Ela sempre esteve disponível para todas as dúvidas que eu tinha, até lembro uma vez que me respondeu em pleno domingo.
Procure grupo de WhatsApp com quem já foi, o grupo South Park City 19/20 tem 125 Brasileiros que estavam na temporada, além de alguns que moram lá, pessoas que foram pela segunda vez – melhor meio de conseguir qualquer tipo de ajuda voltada para a cidade, como funciona, onde morar, onde vai ser as festas, encontrar pessoas nos aeroportos para dividir Uber; foi no grupo que consegui meu second job. Facebook também tem vários grupos da cidade onde publicam aluguel de casas e ofertas de emprego.
Job Offer é um documento fornecido pela agência com a lista com todos os trabalhos disponíveis para a temporada. Nela tem a descrição das posições disponíveis, valor pago por hora, nível de inglês necessário, fornecimento ou não de moradia.
As entrevistas para as vagas iniciam por agosto, antes de realizá-las terá que fazer uma prova de inglês na empresa mesmo ou apresentar a nota de teste de proficiência. Pratique para entrevista, pode ser o diferencial para ser escolhido na sua primeira opção. Assim que sair a sua seleção, você terá alguns documentos para preencher e entregar como carta de recomendação.
Lá no início falei a média de gasto, aquele valor se dá pelo fato de que além do pacote da agência tem os custos com: passaporte (se ainda não tem); passagem de avião; visto e custo da viagem até uma cidade com consulado americano.
Provavelmente antes de ir, ou chegando lá, terá que pagar o aluguel, então é mais um dinheiro para entrar na conta; taxa SEVIS, uma reserva para gastos das primeiras semanas com alimentação, transporte, roupas de frio, plano de celular do país, dinheiro reserva, roupas de frio – até receber o primeiro pay check. E também, se for ficar mais dias do que a data final de trabalho, tem que lembrar de avisar a agência para fazer o seguro saúde desses dias extras.
É bom esperar que os documentos do empregador para tirar o visto (DS) cheguem para comprar a passagem – use alertas de passagens em uns 4 aplicativos diferentes, às vezes é mais barato comprar para um aeroporto internacional como LAX ou EWR e comprar separado a escala dentro do país.
Mas, tenha certeza que tem espaço suficiente para imprevistos; então coloque várias opções de aeroportos nos alertas. Só com o DS em mão consegue agendar o visto; o visto é muito difícil de ser negado e, e é comum fazê- lo em menos de um mês antes de viajar. Com isso em mente, planeje-se na faculdade, há chances de estar em semana de provas na data de ir ao consulado.
Outra coisa bem comum, não desespere-se, é o passaporte chegar em suas mãos na semana da viagem. Na hora de agendar o visto coloque o endereço de um lugar que terá alguém para receber – eu mandei para a agência.
Deixe sua mala bem reconhecível, use faixas com desenhos diferentes, tie wraps coloridos, algo que teu olho encontre de longe; ainda mais se tiver escala de 1-2 horas, mesmo que pareça muito tempo, se tiver que ir para outro terminal; até se orientar de como chegar, pegar o metrô certo e/ou ônibus (às vezes com as 3 malas!) pode ser mais desafiador do que pensa.
Roupas de frio, do que comprei aqui no Brasil, só as segundas pele realmente me foi útil, o resto não era apropriado, mesmo o produto sendo para neve. Se você não tem roupas apropriadas para o inverno, compre lá, leve o que tem de mais quente só para um ou dois dias até comprar.
Busque se tem brechó na cidade; em Park City tem um lugar chamado Christian Center e sempre tem roupas de marcas, muitas vezes pouco usadas, onde é bem mais barato do que em loja, às vezes até com a etiqueta você encontra. Se você já tem como comprar antes pela internet (lembre do IOF) e mandar para onde irá morar, ou conhece alguém que irá antes e pode receber, é uma boa alternativa. Ou uma escala com tempo suficiente para sair do aeroporto e ir em outlet.
COMO CRESCI E ME DESENVOLVI COMO PROFISSIONAL NAS MINHAS EXPERIÊNCIAS DE WORK & TRAVEL NOS EUA
É um programa que acredito que todos deveriam ter, todos os aspectos da sua vida irão evoluir, pois: sair de casa, aprender a cuidar de si mesmo, ter uma experiência profissional; tudo isso são responsabilidade que desenvolve as suas habilidades de entrar no mundo adulto. E ainda com um bônus de viajar junto.
Sempre fui de fazer bem feito os trabalhos que eu me proponho a fazer. Quando acabou a minha primeira temporada meu chefe já falou que eu fiz tudo direitinho e que gostaria que eu voltasse. Quando entrei em contado com o hotel para ir a segunda vez minha vaga já estava garantida. Assim que cheguei em Park City meu chefe me promoveu a supervisora da minha equipe, então era responsável por sete pessoas que faziam Work & Travel, novamente todas falavam espanhol, mas dessa vez foi diferente. Presenciei as pessoas evoluírem como aconteceu comigo na primeira vez. Começar meio perdido no que é para fazer, perceber as diferentes personalidades em um ambiente de trabalho, com o tempo familiarizando-se com o trabalho e ganhando responsabilidade.
Liderar uma equipe, vendo tudo que eu tinha vivido de uma forma diferente, passando minhas dicas, facilitando o trabalho, e às vezes confundindo, pois ninguém pensa igual ao outro ao se deparar com uma situação. A segunda vez me trouxe mais contato com pessoas do hotel, americanos. Eu não tinha apenas que atender os hóspedes, mas também me comunicar com os outros setores. Isso porque meu chefe encerrava as atividades antes do final do turno da minha equipe. Conhecia todos os bellman’s até o GM do hotel. As novas aventuras, com maior responsabilidade me permitiram o sentimento de “Gabi, mais uma vez você conseguiu! E com obstáculos ainda maiores.” Foi incrível mais uma vez.
Mesmo voltando para mesma cidade, as experiências foram completamente diferentes. Na segunda vez não precisei de second job, pois o salário era maior. Aproveitei mais a cidade, os amigos que fiz, alguns que também foram uma segunda vez. Dessa vez meu roommate era brasileiro, moramos em uma casa de uma família americana, então vi muito o dia a dia deles. Aliás, a dona da casa foi sensacional com a gente, tudo que tinha de interessante na cidade, desde competição de ski até festa na casa com amigos, elas nos convidava; até o carro me emprestava.
E mesmo com todos os conhecimentos, faz parte da vida, imprevistos acontecerem, mas não deixe de aproveitar bastante sua viagem! Vai ser inesquecível, sempre terá o apoio de muita gente, da agência, amigos que já foram, pessoas no grupo. Portanto, não deixe suas inseguranças lhe impedirem de ir, tudo que te desafia te transforma em uma pessoa melhor.
Estava no programa quando a Covid surgiu, não pude viajar no final. Muitos receios surgiram e não tinha certeza se iria conseguir voltar para o Brasil, com calma, resolvendo as questões conforme surgiram, voltei. E já vou avisando que o próximo W&T eu irei pois é maravilhoso. Quem sabe nos encontramos por lá!